CRÔNICA
Título: Meu recanto
Meu recanto
Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. Assim diz o poeta. Pergunto: onde
está o sabiá? Aqui não está. Preso talvez esteja em alguma gaiola ou quem sabe
na lembrança de seu João Barbosa. E a palmeira?Esta que outrora foi fonte de
renda principal da nossa região, hoje dar lugar ao cultivo do melão.
Carnaúba, árvore da providência, símbolo maior de resistência.Teu verde já não
mais embeleza esta terra altaneira que tantos forasteiros atraem. Senhores de
terras distantes com suas ideias de progresso.
Será que isso e bom ou ruim?Por um lado porque gera emprego e renda para
nossos pais, mas por outro não, pois estão derrubando as nossas carnaúbas. A
árvore símbolo do nosso estado, chamada por nos de "árvore da vida". Tudo dela
de aproveita.
Se os verdes carnaubais são marcas da minha terra, onde eu moro existe algo
diferente, em que outro lugar não há.Somos privilegiados por ter um jeito próprio
de falar.
Interior esquecido, que dividi dois estados- Ceará e Rio Grande do Norte.Limite
que junta e separa.Aqui tudo se dividi, inclusive o linguajar.Hora falamos
"cearês" hora "potiguarês". Que confusão! Dizem que falamos apressado, com
chiado e muitas expressões regionais. Na verdade é herança dos nossos
antepassados que aqui chegaram. Foram eles que criaram esse sotaque diferente
que chamamos "Cacimbafundense".
Há pessoas que "mangam" do nosso sotaque.Dizem que falamos errado. Quer
saber, não falamos errado, apenas aprendemos a falar desse jeito por causa da
nossa cultura.
Quando falamos "pense" na verdade não estamos mandando você pensar e sim a
história aumentar. Muitas pessoas não entendem quando falamos várias palavras
juntas, como por exemplo, " como é que" falamos "cumequié". Engraçado para
alguns, mas para nós normal.
Nessa terra acolhedora. Sim, "a-co-lhe-do-ra", diz o ditado popular que quem
daqui à água bebe, com certeza voltará.
Aqui também tem patrimônio: " A piçarra". A melhor da região é retirada sem
piedade para satisfazer o progresso de outras cidades.
Dar gosto de ver quando chega o inverno. Os buracos escavados para retirada da
"piçarra" faz a festa da molecada. Cheios de água é um convite ao
entretenimento, contraste entre a diversão e o perigo. As brincadeiras das
crianças são um espetáculo repleto de graça ir encanto. Pingos de água barrenta
fazem a distração da garotada - ganha quem primeiro à pedra no fundo pegar -
gritam eles. Esse é um dos primeiros treinos que os tornaram excelentes
nadadores.
Assim é minha terra. De sonhos é encantos, barro batido e vermelho, água
salobra, amor verdadeiro. Dos verdes carnaubais, da língua cacimbafundense, da
piçarra patrimônio natural e das lendas graciosas. Meu recanto, meu cantinho no
Ceará.
MEMÓRIA
Título: Túnel do Tempo
Túnel do tempo
No embalo da cadeira de balanço, entre um cochilo e outro, ouço a voz do meu
netinho.
_ Vovô acorda, está na hora do senhor ir para a cama.
Na voz inocente do pequeno fico a imaginar como seria bom se pudesse voltar ao
meu tempo de infância. Já repararam que todos nós a partir de certa idade
sentimos saudades da nossa infância. Essa saudade terna, que às vezes aperta o
peito e nos deixa nostálgico. Acho que de todas as fases da vida é da infância que
sentimos mais falta.
Lembro-me que naquele tempo a vida era bem mais simples. Nós, moleques
sapecas, brincávamos na rua de barro batido, em frente a nossa casa de taipa.
Naquele pedacinho de chão não havia luz elétrica. Nas noites enluaradas
praticávamos livremente nossas brincadeiras preferidas: esconde-esconde,
passar o anel, trisca, cantigas de roda e cair no poço.
Nas noites de lua cheia os mais velhos sentavam no alpendre e contavam
"estórias e causos" de assombração. Lobisomem, Caipora, Mula sem cabeça,
almas de outro mundo. Mitos da infância que povoaram meus medos de criança.
As crianças hoje já não brincam mais nas ruas, já não sabem cantar cantigas de
roda, fazer casinhas de boneca, jogar bolinhas de gude. Suas brincadeiras são
sentadas diante de uma TV com um controle remoto nas mãos ou sozinhas,
perdidas, em frente à tela de um computador.
Lembro que perto da minha casa tinha um barreiro. Não era um barreiro qualquer.
Ele fez parte da minha história e de tantas outras crianças da comunidade. Nele
aprendi a nadar. Tomei banho, construí castelos, panelinhas de barro para minhas
irmãs. Hoje é apenas saudosa memória. Tudo mudou. Suas águas barrentas e
densas já não espelham memórias felizes. Reflete um pesar, a prova maior do que
o ser humano é capaz de fazer com o seu refugio. Mas as águas tem poder. Espero
que o tempo, senhor da sabedoria, ilumine a consciência dos homens deste
refúgio abençoado e faça escorrer as lembranças tristes, deixando florescer a
esperança de dias melhores.
Que boas lembranças tenho dessa época! Agora recordando, me pergunto: Será
que essas lembranças é a chave para o túnel do tempo?
Eram tempos difíceis. Não tínhamos o conforto que temos agora. O transporte era
o lombo da mula. Quando íamos visita os parentes, meu pai colocava os filhos
menores dentro do caçoar - uma espécie de cesto de cipó que era posto lado a
lado no lombo da mula. Os mais velhos iam a pé, acompanhando o trote vagaroso
da mula, pois a areia fofa não nos deixávamos impor outro ritmo.
Desde muito cedo fui trabalhar na roça com o meu pai. O estudo ficava em
segundo plano. Como filho mais velho tinha a obrigação de ajudar no sustento da
família. Apesar das dificuldades não trocaria essa época da minha vida por nada.
Guardo também em minhas lembranças a casinha de taipa que ficava a beira da
estrada que dava caminho ao único cemitério da região. Acordávamos com as
cantigas fúnebres e o grito de socorro dos caminhantes - acode irmão de alma -
esse era o sinal para que outro tomasse o posto de carregador de defunto.
Mesmo morrendo de medo, mas curiosa como toda criança, olhava pela fresta da
porta aquela cena: o finado dentro de uma rede, enrolado com um lençol branco
era carregado pelos parentes e amigos que com um rosário nas mãos dedilhavam
o terço continuamente.
É muito interessante lembrar aquele tempo, pois a morte naquela época era coisa
respeitada.
As velas acesas, as lágrimas, as preces e o negro das roupas impunham profunda
solenidade ao velório. Velar o morto implicava o tempo necessário - dia e noite -
pois o sepultamento acontecia sempre ao raiar do dia - horário mais apropriado
para a longa caminhada até o cemitério.
O tempo passa depressa e hoje sentado aqui nessa cadeira, trago no meu coração
as lembranças de momentos felizes da minha vida. Pérolas de uma infância rica
em criatividade e pureza. Escritos guardados que testemunhará o quanto nosso
destino é alterado pelas diversas fases da vida.
CORDEL
Título: Cacimba Funda
Cacimba Funda
O lugar onde eu vivo
Se chama Cacimba Funda
Um lugar bem convidativo
Que causa emoção profunda.
Tem história pra contar
Exemplo é o seu nome
Era Riacho das Florestas
Bastante popular.
Se me pergunta, porque tenho esse nome
Posso explicar
Pela quantidade de poços e cacimbas
Cacimba Funda passou a se chamar.
Cortada pela BR trezentos e quatro
A leste de Aracati
As águas do Castanhão
Deságua no mar daqui.
Terra de barro vermelho
De poeira imponente
Mas muito importante para o cultivo
Que dar sustento de muita gente.
Cajueiro e carnaúbas
Era nossa economia
Até chegarem o melão
Macaxeira e melancia.
A vida aqui é corrida
O povo daqui trabalha
Acorda muito cedo
E sai para batalhar.
Batalha do melão
Para as firmas pegam o caminhão
Doutor Paulo, SINGENTA e RBR
Essa vida no sertão.
Mas também tem alegria
Festa, dança de quadrilha
No tempo do arraia
Isso sim é maravilha.
Comida maravilhosa
Tudo muito popular
Baião-de-dois, cuscuz
Com paçoca de jabá.
A escola é atraente
Trabalha o cotidiano
Cuida bem do estudante
Tudo dentro do seu plano.
Por isso é nota dez
Devagar chegamos lá
Pintando Aracati de verde
O seu nome irá brilhar.
Somos ricos em patrimônio
E podemos apresentar
Arvores antigas, carroça,
jumento solto na roça, esse é o meu lugar.
Brincadeira de infância
Precisamos recordar
Soltar pipa, pular corda
Trisca cola e adivinhar.
Vivemos em seca constante
O inverno aqui e escasso
Se chove em janeiro
Não chove em março.
É duro a vida do agricultor
Homem trabalhador
De mãos calejadas
Mas não perde o seu vigor.
As festas são animadas
Unidos em comunidades
Todo mundo contribui
Com muita felicidade.
Cacimba funda!
Terra acolhedora
Que recebe tanta gente
Que vem cuidar da lavoura.
Todos acreditam em Deus
Só muda a religião
Por isso no final da história
Todos se dão as mãos.
Sou garota sou poetiza
E acabei de apresentar
As belezas e riquezas
Que existem em meu lugar.
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Poema
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Crônica
Número do texto: 290.755
Quantidade de caracteres: 2.714
Título: Meu recanto
Aluno: Anderson Soares dos Santos
Professor: Francisca Elizete da Silva
Parabéns pelo empenho dos professores e alunos, muito bom ver o compromisso de vocês por umas educação de qualidade!
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